top of page
Bg_Texto_contos.png
homem_invisivel_de_andre_sant.jpg

Arte e Texto por André C. Sanches.

“A vida e o universo te aceitam todos os dias,

não importa se está tudo bem ou não, você

continua seguindo saudável e sem duvidada com vida

pois você está lendo isso, mas se um dia o universo

se cansar de você, se cansar desse seu modo egoísta

de viver a vida sem se importar com os outros a sua

volta? Pois com certeza você anda pelas ruas e vê

moradores de rua e nem se quer pensa em ajuda-los,

ora porque negar, não precisa de hipocrisia, não tem

como ajudar a todos, se todos ajudassem, muitos mais

se tornariam moradores de rua para se aproveitar da

bondade de bem feitores, claro que com isso te deixei

dividido entre ajudar ou não, mas esta não é a questão,

pois nenhum de nós podemos no singular salvar

o mundo, essa sem dúvida é uma ação coletiva,

mas o ponto onde que quero chegar é...

 

Se o universo se cansar de você, do seu egoísmo, do seu jeito

de usar as pessoas para o seu prazer, sem se importar com o sentimento

ou com as necessidades delas, se o universo se cansar de você ele usará

todas as energias para fazer você reconhecer o seu erro, para fazer você aprender o que realmente é importante nessa vida, nem que isso aconteça no seu último suspiro.”

 

 

 

l Dia 1 l Aceitação.

 

 

Eric acordou naquela manhã e ágil como de costume, assim que o despertador tocou ele olhou o celular, viu as horas, resmungou, ainda deitado mandou uma mensagem para namorada, dizendo o velho e simples “bom dia, meu amor” dizendo por dizer, apesar de toda a energia, Eric era uma pessoa desprovida de sentimentos muito afetivos, as vezes até mesmo se questionava o porquê de ter se envolvido em um relacionamento com alguém, se isso nem se quer o fazia sentir algo diferente, levantou da cama com um pulo, ligou o som no último volume, andou de cueca pela casa, foi até a cozinha pegou um bilhete que estava sobre a mesa.

“Filho, a mamãe deixou seu café no micro ondas, fiquei com receio de te acordar, você estava tão cansado.”

Ele gostava daquilo, a solidão os dias calmos e vagos, pegou seu café e comeu enquanto sussurra suas músicas favoritas de boca cheia. Por um instante agradeceu por sua mãe ter arrumado outro emprego, detestava a companhia de qualquer pessoa durante as manhãs, engoliu o ultimo pedaço de pão e correu para o banho, saiu de toalha correndo para o quarto, ao passar pela porta prendeu a toalha em algo que a puxou bruscamente fazendo-o perder o equilíbrio, caiu sem tempo para procurar algum apoio, sua cabeça bateu com força contra o chão, logo sua visão começou a doer, sua cabeça latejar, levou alguns segundo pra se levantar meio desnorteado com a queda, mas ainda sim, se colocou de pé, voltou para o quarto e ao enxugar os cabelos viu a toalha repleta de sangue, colocou a mão na ferida e ainda doía, mas não tinha tempo pra ir num hospital, era importante chegar no trabalho no horário pois uma promoção estava em jogo, era ele ou um outro cara que nem se quer tinha alguma ambição de crescer na vida. Terminou de se arrumar, colocou suas luvas de ciclismo, colocou o tênis, pegou suas chaves, abriu os portões, voltou dentro de casa pegou sua bicicleta e o capacete colocando ambos do lado de fora, voltando para trancar os portões e então colocou o capacete exortando o rosto por um instante por causa da dor que ainda era latente. Seguiu pedalando, logo na primeira esquina um carro cinza quase o atropelou vindo de uma curva fechada sem farol, o motorista fez um gesto desagradável com o dedo para Eric que preferiu ignorar aquilo e seguir pedalando para seu trabalho, assim que chegou no trabalho conversou com um amigo sobre quase ter sido atropelado. Seu amigo assustado questionou sobre o por que ele não reagiu.

– Mas por que você não fez nada? Não anotou a placa ou algo do tipo pelo menos?

– Lucio entenda, nessa vida temos que deixar os inimigos irem, pois do contrário eles ficarão!  As coisas ruins que acontecem vem de pessoas ruins, e quando você não aceita essas coisas voltam para seus mal feitores. A única coisas que não devemos fazer é aceitar e isso, pois a raiva nos destrói sem a gente perceber.

– Está certo. Mas chega de filosofia né, bora bater o ponto que já deu a hora.

Eric se olhou no espelho, arrumou o cabelo, e então saiu junto de seu amigo para a parte de atendimento da loja onde eles trabalhavam, durante o dia no trabalho ocorreu tudo normal, saíram para almoçar, voltaram do almoço e depois a volta pra casa, voltou da mesma forma com sua bicicleta, porem desta vez sem o capacete, pois apesar de tudo sua cabeça ainda estava com uma dor latente que o incomodava, e ao virar a esquina da rua da sua casa, o mesmo carro que mais cedo quase o atingiu, fez a mesma curva e se deparou com o garoto de bicicleta, que se jogou pro lado rolando no asfalto, fazendo o motorista frear bruscamente para evitar o ciclista que surgiu na sua frente de repente. O motorista desce, um homem Afro de cabelo grande, roupas largas, cordões de lata e uma expressão intimidadora, o homem começa a xinga-lo, ele olhava para ao lado e não havia mais ninguém na rua, ninguém para apaziguar aquela situação, o rapaz do carro continuava a xingar e gritar, sem saber como reagir Eric pegou a sua bicicleta e continuou indo pra casa deixando o rapaz do carro gritando as palavras de fúria sozinho.

Chegou no portão de casa, pegou as chaves no bolso abriu os portões e depois voltou para pegar a bicicleta, guardou a bicicleta e fechou os portões atrás de si. Andou pela casa tirando as roupas e atirando-as no chão, foi direto para o banho, viu um bilhete sobre a mesa, provavelmente era de sua mãe avisando que o jantar estaria no micro-ondas assim como o café da manhã, entrou de baixo do chuveiro assim que a agua caiu, ele sentiu um ardor que o fez se distanciar da agua instantaneamente, só então olhou para o seu braço direito, que estava completamente ralado, talvez pelo atrito com o asfalto, ao ver a sua situação atual respirou fundo engolindo toda a dor e voltando pra baixo do chuveiro com a agua morna e corrente, começou a lavar o braço, sentiu a pele queimando ao passar sabão, mas aquilo era necessário, as bolhas no chão eram rosadas assim como a agua num misto de sabão e sangue, então passou a mão em sua cabeça e encontrou a fonte de todo aquele sangue.

Deixou a agua cair em seu corpo que já havia se acostumado com o ardor que ela estava lhe causando, ficou ali por um tempo, depois desligou o chuveiro, então foi andando calmamente para o quarto. Se enxugou com a tolha que ele havia deixado jogada em seu quarto mais cedo. Depois devolveu ela ao canto qual estava, colocou uma roupa qualquer e foi pra cozinha, leu o bilhete, que dizia a mesma coisa do bilhete do café, apenas trocando a palavra café por jantar, apertou o botão do micro-ondas para esquentar, enquanto o prato ali esquentava por três minutos ele pensou em como a existência da mãe era dispensável, apenas precisa de alguém para lhe fazer o café e o jantar.  Aquele pensamento lhe arrancou uma risada, o micro ondas apitou, ele pegou seu prato e o levou para o quarto, pegou o celular e mandou uma mensagem para sua namorada, que assim que ele enviou, uma ligação tocou, o nome surgiu na tela “Fabiana” frio e direto, sem apelidos carinhosos ou eufemismos engraçados. A voz do outro lado sou sonolenta, ele sempre achou a voz dela linda, ainda mais quando ela estava com sono, sua voz era a combinação perfeita para seus olhos verdes.

– Oi?

– Oi...

– Está tudo bem?

– Esta sim! E por ai está tudo bem?

– Esta, e ai como foi seu dia?

- Nada bem, quase sofri dois acidentes de bicicleta, cai e bati a cabeça logo cedo, o trabalho foi tudo normal. O que me quebrou foi o resto do dia. E você? Conseguiu passar o dia sem arriscar a vida?

– Hahaha – Disse Fabiana com uma risada irônica. – Foi bom ajudei minha mãe com as coisas de casa, depois fui para o trabalho. Cheguei quase agora também, liguei por que queria ouvir a sua voz. Já estava ficando com saudades.

– Eu também. Vamos nos encontrar amanhã? Tomar um café?

– Pode ser.

– Bem eu vou indo por aqui, minha cabeça está explodindo de dor e eu ainda vou jantar.

– Tudo bem.

– Amour

– Te amo.

– Ei isso não vale.

– Não vale o que?

– Você falou eu te amo no nosso idioma, tínhamos prometido falar eu te amo sempre em idiomas diferentes eu falei em francês.

– hahaha, te peguei, Te amo em espanhol se fala da mesma forma que em português.  Agora vamos dormir.  Minha menina linda dos olhos verdes.

– Tá certo, dorme bem meu amour.

– Ei você tem lindos olhos.

– E você ainda continua dizendo isso desde que nos vimos pela primeira vez, naquele farol.

– Eu não vou esquecer isso, estava correndo e ainda sim seus olhos me fizeram para.

– Naquele dia eu quase morri atropelada por um caminhão, você me tirou do chão, o que deu em você pra me parar daquele jeito e me falar o que você falou.

– O que meu deu? Me deu uma certeza de que era a pessoa certa. Por mais que eu não tivesse maturidade na época pra saber o era conhecer pessoa certa.

– E agora você tem?

– O que?

– Maturidade.

– Eu estou com você não estou?

– Sim está!

– Então podemos dormir em paz, pois seja onde for temos sempre um ao outro, você sempre será o meu porto, o lugar pra onde eu volto depois de um dia maluco.

– Eu me lembro de quando te disse isso. Fico feliz por você também lembrar. Bons sonhos Eric.

– Bons sonhos Fabi.

Eric pegou seu prato de comida quase frio e comeu ali mesmo deitado, acabando colocou o prato aos pés da cama, virou pro lado e então adormeceu se despedindo do dia destrutivo que havia tido.

 

 

l Dia 2 l Rejeição.

 

Eric acordou na manhã seguinte não tão ágil como de costume, sua cabeça ainda doía um pouco, mas era menos do que no dia anterior, assim que o despertador tocou ele olhou o celular para ver as horas e se assustou, não era o despertador que estava tocando e sim sua namorada ligando, se assustou ao perceber as horas, olhou o quarto a sua volta e tudo estava completamente limpo e arrumado, se perguntou por um instante quando sua mãe teria tido tempo para aquilo? Afugentando a pergunta de sua mente voltou a se preocupar com o tempo que agora lhe era escasso, pois apesar de todo jeito largado, Eric se mantinha sempre pontual, levantou as pressas, resmungou consigo, mandou uma mensagem para namorada, dizendo o velho e simples “bom dia, meu amor” e depois outras poucas palavras de desculpas por ter esquecido do café da manhã que teriam,  sem se preocupar com os sentimentos ou como Fabi iria reagir aquilo, pois nem se quer atendeu a ligação, ligou o som no último volume, andou de cueca pela casa como sempre, foi até a cozinha pegou o bilhete que estava sobre a mesa.

“Seu café está no micro ondas.” Um bilhete frio e sem afeto, por um instante se sentiu vago, como se a presença ali não tivesse tanta importância quanto ele imaginava que teria.

Porém parte dele gostava daquilo, a solidão os dias calmos e vagos, pegou seu café e comeu apressado enquanto sussurra suas músicas favoritas de boca cheia. Por um instante agradeceu por sua solidão momentânea abdicando da culpa por ter esquecido da namorada e perdido a hora do encontro com ela. Ele detestava a companhia de qualquer pessoa durante as manhãs, e isso incluía todos, sem exceções, engoliu o ultimo pedaço de pão e correu para o banho, saiu de toalha desta vez andando cuidadosamente para o quarto, se arrumou, sentiu as roupas um pouco justas em seu corpo, as luvas prendendo um pouco os dedos, então teve uma surpresa ao calçar seus sapatos, não lhe serviam, tentou outro, e depois mais outro, e outro até que por fim se convenceu que nenhum calçado lhe servia, pegou um par de chinelos, colocou sua bicicleta pra fora, trancou os portões e seguiu em frente, parou na primeira loja de calçados que encontrou, entrou, escolheu um modelo de calçado social e um esportivo, ao provar pediu para o vendedor um número 42 que ficou extremamente largo em seu pé, 41 e o resultado não foi muito diferente, até que por fim o vendedor lhe trouxe um número 40 que coube perfeitamente em seu pé.

– Você está brincando né!

– Pois não senhor? Respondeu o vendedor curioso com o comentário do rapaz.

– Eu acabei de experimentar todos meus tênis e nenhum serviu em mim, e todos eles eram número 40.

– Talvez eles tenham encolhido, isso acontece quando os tênis molham ou ficam guardados por muito tempo.

– Acho pouco provável, mas isso não importa. Vou levar os dois pares, pode passar no debito. Disse Eric estendendo o cartão de debito ao vendedor que o pegou subitamente e pediu pra que ele o acompanhasse até o caixa.

– Aqui senhor pode digitar a sua senha. Disse o rapaz lhe estendendo a máquina com o cartão.

Senha errada senhor, o Senhor pode tentar mais duas vezes. Eric tentou de novo e depois mais uma vez.

– O seu cartão foi bloqueado senhor.

- Mas que porra! Exclamou Eric em um tom gritante que chamou a atenção de todos que estavam na loja para si.

– O que foi caralho? Nunca viram ninguém bravo nessa porra!? Disse para as pessoas que o encaravam. O gerente se aproximou e tentou acalma-lo, mas desistiu quando foi recebido com um gesto rude afastando-o, Eric pegou a carteira e jogou o dinheiro sobre o balcão da loja e saiu com as sacolas esbarrando em dois atendentes e um dos clientes, pegou sua bicicleta e seguiu pedalando para o trabalho, assim que passou do primeiro farol fez uma curva fechada e se deparou com um carro, que freou bruscamente para não acerta-lo em cheio, Eric Desceu da bicicleta envolto em fúria e raiva, começou a chutar o carro, e xingar o motorista dos piores insultos sem ver que de fato estava dentro do carro, foi então quando se colocou a observar mais atentamente pelas frestas das chamas da sua raiva que viu quem estava no veículo, na hora se acalmou, se aquietou e pensou em pedir desculpas, era um casal de idosos orientais, a senhora estava apavorada dentro do carro e abraçava o marido que queria sair para tentar acalmar o garoto, que ao ver o erro que tinha cometido subiu na bicicleta e começou a pedalar freneticamente para o seu trabalho, as gotas de suor pingavam de seu rosto, sua boca estava seca, seu coração acelerado, chegou na porta do trabalho, prendeu a sua bicicleta e entrou no seu trabalho afoito, sua chefe o estranhou, ele subiu as escadas para o vestiário e ela o seguiu, ele percebeu, mas não havia tempo para conversa, precisava lavar o rosto, se olhar no espelho, recuperar o folego, retomar a calma, beber água, assim que cruzou a porta se deparou com Lúcios, que estranhamente não o reconheceu de início, talvez por seu estado atual, ele correu até uma pia e começou a lavar o rosto e beber água, depois de saciado se sentou em um dos bancos do alojamento,  começou a se trocar quando trocou de tênis viu seus pés com uma cor diferente, um tom pálido que o fez tocar no pé para verificar a temperatura que para sua surpresa estava quente, completamente normal.

-  O que é isso então? Sussurrou para si mesmo.

A gerente da loja entrou no alojamento acompanhada de um rapaz, que estava junto com Eric concorrendo a promoção.

– Quem você pensa que é para entrar aqui dessa forma?

– Desculpa, é que eu tive um dia terrível hoje. Disse Eric colocando novamente o tênis.

– E daí, você não pode entrar no trabalho dos outros desse jeito? Faça o favor de sair daqui agora!

– Trabalho dos outros? Li, eu trabalho aqui!

– Olha aqui! Ou você sai daqui ou eu vou mandar o supervisor de loja chamar a polícia! Disse a mulher apontando para o rapaz que estava parado na porta do vestiário.

– Supervisor? Esse cara? Li eu que seria promovido!

– Quem é você, como eu ... Chega eu nem tenho que estar falando nada com você, sai logo daqui!

– Li! Escuta eu te conheço, sei que seu marido se chama Cesar, que você faz aniversário dia 20 de dezembro, eu conheço o Lúcio, conheço até esse mané que esta ai parado com cara de idiota! Que brincadeira é essa pessoal?

- Desculpa, eu que pergunto que brincadeira é essa? Como sabe essas coisas de mim? Como sabe o nome do meu pessoal.  Quer saber, não importa! Você vai sair daqui agora! Ou eu mesma vou chamar a polícia! – Disse ela se virando.

– Está bem, não precisa de nada disso eu saio! Calma! Eu saio!

Assim que passou pela porta do vestiário o agora supervisor deu-lhe um tapinha no ombro que foi o estopim para sua ira, que ali explodiu em um soco violento de esquerda na cara do rapaz que caiu instantaneamente, depois de caído Eric montou encima dele e então o socou de novo, e depois de novo, de novo e os golpes se revestiam de sangues e gritos da gerente e do jovem Lucio que via a cena do colega de trabalho sendo espancado pelo homem agora desconhecido, finos fios de sangue subiam no ar sendo seguidos por gotas, o rosto do recém supervisor estava quase que irreconhecível, o rapaz estava inconsciente quando a gerente por um misto de pavor e adrenalina entrou no meio empurrando o estranho para longe do corpo desacordado do rapaz, Eric ao ver novamente o que havia feito. Reconheceu que ele estava fora de controle. Desceu as escadas correndo com as mãos e a roupa ambas repletas de sangue, segurou no corrimão e quase escorregou pelos degraus abaixo, quando olhou para o corrimão cheio de sangue entendeu o porquê do deslize, ainda assim continuou correndo, saiu pela porta da frente da loja chamando atenção de todos que estavam ali, por um instante ele se lembrou da loja de sapatos qual estava a pouco menos de uma hora atrás. Mas desta vez as pessoas não estavam curiosas, elas estavam assustadas, ele estava desamarrando a bicicleta, ele queria fugir dali, ele queria ir pra longe, pra longe de toda a culpa, de toda aquela loucura. Montou em sua bicicleta e começou a pedalar sem rumo algum, até que chegou em uma praça, era um entardecer de inverno, o dia ameaçava chover, mas toda a ameaça dava lugar um pôr do sol, ali saltou da bicicleta deixando-a cair no chão e se sentou escondendo o rosto entre os braços e começou a chorar como já não se imaginava capaz de chorar, estava ali, sem saber onde de fato era “ali” , estava sozinho, olhava para o céu e perguntava o porquê de tudo aquilo estar acontecendo, as lagrimas caiam de seus olhos deslizando por seu rosto refletindo o brilho do sol que sumia no horizonte, cortando seu pranto o seu telefone tocou.

– Alô?

– Eric?

– Sim, sou eu! Fabi, por favor... me ajuda...

– Eric você está chorando? O que houve?

– Fabi, está tudo dando errado, eu estou com medo, as pessoas estão falando que não me conhecem, eu não sei a senha do meu cartão, minhas roupas estão apertadas em mim, Fabi eu estou assustado, por favor me ajuda.

– Calma amor, está tudo bem, calma eu vou te encontrar, tudo bem?

– Sim, sim, onde você quer me encontrar?

– Ora meu bem, no lugar de sempre!

– Lugar de sempre? Por um instante Eric revirou a sua mente e não encontrou nada com o nome de “O lugar de sempre!” Aquilo simplesmente não existia em sua memória.

– É! Na lanchonete perto da escola que estudamos juntos.

– Fabi, nos conhecemos num farol, não estudamos juntos!

– Não, que isso estudamos juntos desde da quarta série até o último ano, meu amor está tudo bem?

– Fabi do que você está falando?

– Eric, escuta, me fala onde você está, tenho que falar com você.

– Eu não sei estou numa praça, a uns 30 minutos da avenida do meu trabalho, eu preciso sair daqui.

– Por que você não está no trabalho?

– É complicado! Você me encontra, onde?

– Eric você brigou de novo?

– Briguei como assim?

– Você estourado meu amor eu entendo, mas você tem que se controlar.

– Mas que porra Fabi! Eu não briguei com ninguém, por que insiste nessa porra!

– Por que eu insisto?

– É!

– Eric você disfarça pra todos menos pra mim, eu sei que você não está nem ai, eu sei que você não liga pra ninguém além de você, não liga pra mim, não liga pra sua família, usa todos quando te favorecem, olha eu não vou aturar outra briga com você Eric, já tem tempo que não nos vemos e de verdade eu ando até sorrindo, eu não quero mais problemas por causa de você, não mesmo! E eu sei quem você é por dentro, você é uma pessoa que trata o mundo a sua volta como se todos fossem descartáveis, como se fossemos invisíveis. E eu não duvido nada que alguém tenha lhe dito algo no trabalho e você não gostou e partiu pra cima de alguém, porque isso é bem do seu feitio, por que com você é enfrentar o problema com as mão ou virar as costas pra ele.

– Quem você pensa que é pra sair falando assim comigo do nada?

– Quem Eric? De verdade sou só alguém que está cansada, eu te liguei por que eu sabia que algo estava errado, eu liguei no celular da sua mãe e ela falou que não conhecia nenhum Eric, ela falou que não tinha filhos, eu tentei ligar na sua casa e simplesmente o número não existe, eu te liguei pra saber o que você tinha feito desta vez! E adivinha você fez merda sim! Fez e está fazendo de novo, se quer saber o porquê eu suportei isso por tanto tempo, é por que eu te amava, e te amava de verdade seu idiota! Mas esquece! Me esquece! Você faz o mundo de conta que o mundo não existe, hoje você não existe mais, pelo menos não no meu mundo. Me esquece Eric.

– Sua vaca!

– Vai se fuder Eric e vê se desaparece. Disse Fabi desligando o celular.

Instantaneamente Eric tentou retornar, e se deparou com uma surpresa ao ouvir que o número chamado não existia, porem maior ainda foi a sua surpresa quando viu seu braço em um tom tão acinzentado quando seu pé estava no vestiário, começou a se palpar nos braços verificando a temperatura e estava normal, então levantou a barra da calça pra ver suas pernas e então simplesmente não acreditou no que viu.  Ou melhor no que não viu! Suas pernas haviam desaparecido, ele tocou e sim! Elas estavam ali, sua pele agora transparente estava quente, mas não eram mais visíveis, ele mexeu os dedos dos pés, sentiu os dedos dos pés se mexerem, raspando contra o tecido do tênis, num gesto instintivo como se espantasse um inseto de sua pele, ele tirou a camisa e se deparou com seu corpo quase todo acinzentado, apenas com o centro do peito e rosto em seu natural, o comum tom de pele moreno. Com medo de que alguém o visse daquela forma vestiu a camisa novamente e correu até sua bicicleta, montou nela e seguiu pedalando pra casa tão freneticamente quanto ele havia saído mais cedo.

No meio do caminho se lembrou no que a sua agora ex-namorada havia dito ao telefone, sua mãe tinha dito que não tinha mais filhos? Não! Ela tinha falado que não “tinha” filhos. Isso mesmo! Ela disse que não tinha! Disse confirmando pra si, enquanto pedalava e as gotas de suor caiam de seu rosto.

Assim que virou a esquina de sua casa lá estava o cara que quase o havia atropelado na noite anterior.

Eric estava apressado, o rapaz do carro percebeu isso e deu um sorriso, ligou o motor do carro que fez um estrondo rompendo o som das pedaladas, Eric não parou, o rapaz do carro sorriu de novo, pisou no acelerado, Eric passou pelo carro o mais rápido que pode, porém não rápido o bastante. O carro acertou a roda traseira, o cambio da bicicleta quebrou entrando do meio da roda, fazendo o eixo central da roda traseira se quebrar e ­travar completamente a roda. Com a pancada Eric foi ao chão, o ralado da noite anterior encontrou o asfalto novamente causando uma dor latente quase que insuportável, a raiva lhe veio à tona novamente, ele rangeu os dentes, serrilhou os punhos, olhou para suas mãos sujas de sangue e suor e se lembrou de tudo que já tinha feito, se conteve por um instante recolheu-se dentro de si, e seguiu empurrando a bicicleta de volta pra casa, o rapaz do carro ria e o provocava, ele correu o mais rápido que pode arrastando a bicicleta quebrada, estava ardendo em ódio e desespero quando chegou até a porta de sua casa, abriu a bolsa, pegou as chaves e colocou no portão e este não abriu, forçou um pouco e nada, suas chaves simplesmente não funcionavam, desesperado começou a esmurrar o portão, gritando loucamente por sua mãe que logo abriu o portão, sua expressão era de medo e pavor, talvez por ver o filho coberto de sangue e com expressão tão desesperada, assim que ela abriu o portão Eric se atirou pra dentro de casa deixando a bicicleta do lado de fora correu para o quarto e assim que chegou na porta do quarto notou que sua mãe ainda estava no portão com expressão de medo, ele a olhou nos olhos.

- Está tudo bem mãe.

- Não está nada bem! Quem é você? O que está fazendo na minha casa?

- Mão como assim sou eu seu filho Eric!

- Fernando! Fernando! Gritou a mulher em um pranto de socorro. Um homem de meia idade saiu de um dos cômodos, ele era alto robusto, cabelos raspados e expressão questionadora, provavelmente pela cena que havia encontrado ao entrar na sala. Sua mulher a porta e um jovem desconhecido parado na frente de um dos cômodos.

- Quem é você?

- Eu? Quem é você!?

A mulher correu para perto do homem desconhecido e se escondeu atrás do braço dele.

- Ei garoto por favor saia da nossa casa não queremos problemas com você! Pegue o que você quiser e por favor saia!

- Eu morro aqui! Esse é meu quarto! Disse Eric finalmente abrindo a porta do que antes era o seu quarto. Estava vazio! Era agora um quarto de objetos velhos, diversas coisas amontoadas.

O homem por sua vez se aproximou, colocou uma mão sobre o ombro de Eric e com a outra fechou a porta do quarto, livrando Eric do vislumbre de mais aquele pesadelo. Eric não aguentou e desabou no chão, de joelhos em prantos começou a se encher de dor e logo a dor se tornou raiva, uma raiva que estava transbordando sem controle algum, fazia infinitas perguntas em sua mente, sobre tudo o que estava acontecendo, a senhora colocou a mão no outro ombro do garoto.

- Escuta jovem, os vizinhos provavelmente já chamaram a polícia! É melhor você ir embora!

- Ir embora? Pra onde? Esta é a MINHA CASA! Disse Eric em um grito, afastando ambas as mãos que estavam em seus ombros e voando em cima da mulher que antes era a sua mãe, derrubando-a no chão e grudando no pescoço dela e gritando todas as perguntas que perturbavam a sua mente, o senhor tentava afastar o garoto de sua esposa, mas quase que sua luta era sem sucesso algum, o garoto estava praticamente banhado em fúria e força jovial.

- Por que estão fazendo isso comigo! Porque! O que vocês querem de mim! Seus desgraçados! Sua vadia! Vaca! Maldita! Parem com isso! Parem agora! Gritava o garoto batendo a cabeça da senhora contra o chão até que subitamente uma pontada em seu peito o fez cair pro lado e começar a se debater convulsivamente no chão, o homem se precipitou para ajudar sua mulher que havia se libertado das garras do jovem que agora de debatia a poucos metros de onde estavam.

Logo viram algo que não acreditaram, o rosto do garoto começou a mudar de cor gradativa e instantaneamente do moreno mulato para um acinzentado sem vida.

A senhora já estava se recuperando quando falou para o marido ir olhar o jovem para ver se ele havia desencarnado.

O senhor sentiu medo, pois nunca havia visto algo assim antes, era como se instantaneamente a alma do garoto tivesse deixado o corpo, e esse ali pereceu em palidez, bem ali, na sua frente, porém ainda sim o senhor se aproximou do corpo acinzentado caído em sua sala, assim que tocou foi como se o garoto emergisse para a vida, sugando um grande gole de agua pra dentro de si, respirando ofegante, em sua memória naquele pequeno instante do seu emergir ao assimilar tudo o que estava acontecendo e onde ele estava tudo o que havia acontecido com ele naquele dia, tudo repassou em sua mente, ele se levantou assustado correu até o banheiro ignorando completamente o fato de que aquela já não era mais a sua casa. Ao se olhar no espelho se deparou com uma versão de si apavorante, sua pele estava completamente acinzentada, estava com medo do que estava acontecendo, querendo lavar o rosto tirou as luvas e se assustou ao ver que suas mãos também estavam transparentes assim como suas pernas, então levantou a camisa, e o tronco de seu corpo havia sumido, apenas tinha uma mancha cinza no centro do peito que se estendia parcialmente sobre o tórax e subindo pelo pescoço e cabeça, tornando sua face ainda visível. Os donos da casa apareceram a porta em tempo de ver o garoto abaixando a camisa, a senhora começou a gritar assustada, Eric se assustou, não com o grito mas com toda aquela situação sem saber como reagir aquele momento saiu correndo esbarrando nas no casal na porta do banheiro e fugindo, ao passar pela porta olhou para os lados e viu vários casacos num suporte, pegou um casaco com toca, o vestiu, cobriu sua cabeça, saiu porta a fora, pegou sua bicicleta e seguiu arrastando ela o mais rápido que pode pela rua sem destino, o céu já estava escuro, as estrelas brilhavam no céu nublado que sustentava a chuva que estava por vir, A lua e as estrelas entre as nuvens brilhavam como se fossem expectadores daquele dia horrendo, a lua está quase completa no centro do céu clareando toda a rua a sua frente, do nada entre as sombras deixadas pela lua surgiu uma risada.

- E ai mariquinhas! Zuaram a sua bicicleta? Até parece que um carro bateu nela. – Disse rindo o rapaz que havia batido na roda traseira de sua bicicleta, naquele momento talvez pela última vez naquele dia ele se enfureceu, mas desta vez ele não tinha motivos para se conter, ele já havia perdido tudo. Então parou de ignorar o rapaz que estava encostado no capo do carro, parou ali mesmo onde estava, soltou a bicicleta que caiu no chão ao seu lado.

- Olha só o mariquinhas soltou a bicicletinha! E agora vai fazer o que? Moleque!

- Eu vou acabar com você! Disse Eric olhando para o rapaz por cima do ombro.

- Que merda é essa na sua cara? Não te ensinaram a usar maquiagem na escola da viadagem não é moleque?

Eric não quis dizer mais nada, apenas sentiu o ódio e a raiva crescer dentro de si, e então sucumbiu aquele sentimento e saiu correndo em direção ao rapaz, dando um soco que fez o rapaz cair com uma expressão de surpreso pela atitude do garoto.

- Está bem você venceu! Está legal cara, desculpa!

- Não! Não está nada legal! Cara! Eric sucumbiu ao mal e a raiva que estava com ele naquele momento, montou sobre o rapaz e começou a soca-lo, até deixa-lo inconsciente, o rapaz estava banhado em sangue, as mãos de Eric estavam doloridas, mas ainda assim não era o bastante pra ele, não para o que ele era agora. Eric se levantou mexeu nos bolsos do rapaz, encontrou as chaves do carro. Ele as pegou. Se afastou deixando o corpo desacordado caído na rua, foi até o porta malas do carro, abriu e não encontrou nada. Voltou até onde o corpo do rapaz estava, voltou a tempo de ver o rapaz recuperando a consciência.

O rapaz viu o jovem da bicicleta se aproximando, vindo em sua direção, montando nele, travando-lhe a cabeça numa chave de braço e então começou sentir suas articulação se  forçar, sem forças pra reagir o rapaz do carro sentiu seus nervos do pescoço repuxarem, os ossos estralarem e depois tudo ficou escuro, doloroso e escuro.

Assim que o pescoço do rapaz se quebrou, Eric ergueu aos céus um grito de libertação de tudo que estava consumindo-o, porém a sede, a raiva, a irá de Eric ainda continuava ali, correndo em suas veias, as viaturas estavam chegando no local, Eric estava perdido, sem saber pra onde ir. Logo uma das viaturas chegaram no local, viram Eric próximo do corpo caído.

- Parado! Isso é uma ordem! Levante as mãos e se afaste do corpo, fique de joelhos, e coloque as mãos onde eu possa ver!

Ver! Pensou Eric com uma risada. – Desculpe, mas essa última parte não vai rolar. Disse Eric se ajoelhado de costas para o policial que se aproximou estranhando o rapaz que aparentemente não tinha mãos.

- Certo coloque as mãos atrás do corpo agora!

Eric colocou as mãos atrás do corpo. O policial se aproximou mais e então puxou o capuz que cobria a face de Eric.

- Santa Maria mãe de Deus!

Eric riu! Sem pensar duas vezes golpeou o guarda de surpresa nos pontos frágeis de sua masculinidade. O guarda foi ao chão de joelhos, Eric pegou a arma de sua mão e correu para de trás do carro do homem morto, tirou sua blusa, sua camisa, suas calças, suas roupas intimas, então estava ali, completamente nu. Antes de se levantar por completa ficou reclinado para se olhar no retrovisor do carro, não viu nada! Absolutamente nada! Quem quer que ele era, já não existia mais, quem quer que ele tentasse fingir que era, ele não era mais, pois aquele era o verdadeiro Eric, aquele era quem realmente ele era, o poço de fúria, o alguém sem medo, sem pudor ou respaldo, o monstro solitário e agora O Homem Invisível.

Ele saiu de trás do carro empunhando a arma, e apenas a arma, se aproximou do guarda que estava se levantando, apontou a arma em seu rosto.

- Me desculpe. – Disse Eric antes de puxar o gatilho.

O parceiro do policial ao ver a cena de seu parceiro ser atingido por um tiro que veio simplesmente do nada pegou o rádio da viatura e solicitou reforços imediatos.

- Atenção todas unidades, estamos sob ataque, policial atingido, solicitamos reforços imediatos! Essa foi a última coisa que o policial disse, naquela noite e na vida, antes de Eric surgir na porta da viatura, apontar a arma para outro policial e puxar o gatilho.

As outras viaturas já estavam a caminho, logo a rua se fechou de viaturas e paramédicos que socorreram os corpos dos policiais, todos os policiais começaram a bater nas portas das pessoas, procurando possíveis testemunhas quando na verdade o autor pelos crimes estava bem ali parado no meio deles. Eric queria se divertir, mas sabia que tinha sua própria vingança a realizar, a diversão teria que esperar, saiu correndo saltando por cima das viaturas fazendo um barulho que chamou a atenção de todos que estavam próximos, todos se entreolharam sem entender a fonte do barulho, logo deixaram aquilo de lado e voltaram a coletar pistas do que de fato havia acontecido, claro que sem sucesso, pois o que havia acontecido não era algo normal, natural ou explicável, era algo singular, algo único, e Eric sabia disso, por isso olhou para trás vendo os policiais procurando algo que simplesmente não existia, não mais.

Então Eric sorriu e disse para si mesmo.

 

– Nós veremos de novo meus bons amigos. Disse Eric olhando os policiais andando de um lado para o outro sem fazer ideia do que de fato eles estavam procurando...

 

 

                                 Continua...

 

Meus sinceros agradecimentos:

A você leitor, mesmo que esteja lendo isso por acaso assim como alguém que não quer nada.

Pois se não fosse por você está obra seria vaga e sem proposito.

Obrigado por ler e compartilhar esta e outras histórias que estão por vir.

Meu mais sincero agradecimento.

 

 

Atenciosamente:                                                                                     2016.

 

 

Notas ao Leitor

 

O Homem Invisível

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O Primiro Homem Invisivel conhecido é um livro de H. G. Wells em que o protagonista se torna completamente invisível. Obra-prima de Herbert George Wells, certamente o mais destacado entre os percursos da ficção científica, narra a história de um cientista que, após uma experiência parcialmente bem-sucedida, muda para um pacato lugarejo, gerando uma série de especulações. Com hábitos estranhos, humor instável, e sempre com o rosto enfaixado, chama sempre a atenção dos moradores da cidade.

 

Fonte Wikipédia https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Homem_Invis%C3%ADvel

 

Significado de Invisível

adj. Que, por sua natureza, sua distância ou sua pequenez, escapa à vista: certas estrelas são invisíveis a olho nu.
Que se esconde e não quer ser visto: um homem invisível

  • Facebook - círculo cinza
  • Grey Instagram Ícone
  • Twitter ícone social

“Cada palavra que escrevemos sobre a vida nada mais é do que o grito de nossas almas escapando por entre os dedos.”

bottom of page